10 de fev. de 2011

Cantei, cantei....

Os exagerados anos 80, hoje tão mal falados,para mim foram os melhores. Foram os anos do Parque Trianon onde ia todos os dias levar as crianças para brincar,mas também foram os anos de Cauby Peixoto. Quantas vezes não cheguei da ''balada", palavra que, assim como o Ricardo Amaral, também odeio, para tomar um banho, café e emendar um parquinho com meus filhos. Ah! A vitalidade da juventude. Nossos companheiros inseparáveis eram a Cristina e Geraldo, primos queridíssimos com quem eu dividia a minha paixão pelo Cauby. Não perdíamos um show. Quando ele fazia temporada em São Paulo íamos todas as noites, mesmo sabendo de cor todas as músicas e as entradas. E que prazer sentíamos nisso! disputávamos para ver quem gostava mais dele e nos divertíamos muito com isso, cada noite rendia boas risadas e muitas histórias. Nós íamos tanto aos shows dele que ficamos conhecidos dos garçons, maitres, porteiros, donos das boites, isto é, eu e Luis Augusto, porque Geraldo e Cristina já eram há muitos e muitos anos conhecídíssimos na noite paulistana. Evidentemente acabado o show íamos ao camarim e de tanta frequencia, acabamos amigos. Não pensem que a proximidade do nosso ídolo tirou o charme e o encantamento. Quando ele cantava era o nosso monstro sagrado, no camarim e depois nas mesas de bar, era o nosso amigo que ria conosco do exagero e brilho de suas roupas e que contava histórias deliciosas sobre a história da noite carioca e dos maiores ídolos da nossa música. Para a maioria da minha geração ele era um velho cafona e exagerado, e eu uma louca que gostava dele, eu nem ligava, a minha paixão, por uma sorte que não consigo imaginar o merecimento, fez com que eu aprimorasse meu gosto musical e pudesse conhecer e até ouvir muitos monstros sagrados dos anos 50 que , naqueles 80 se encontravam esquecidos cantando em pequenas boites que só os grande bohemios e conhecedores de boa música frequentavam. Eu não me lembro quando foi que nos afastamos, acho que foi quando eu comecei a ficar velha. Só sei que nossas saídas foram se espaçando até que um dia acabaram de uma vez. Passados muitos e muitos anos,décadas até, meu marido quis ir num show no lendário bar Supremo. Resisti o quanto pude, odeio reviver momentos felizes, gosto de ficar com eles na minha memória e não cutucar o passado. Para falar a verdade acho que eu tinha medo de ver a decadência física do meu ídolo e nela enxergar a minha, não sei. Só sei que fui e, como sempre, ficamos numa mesa de frente. O lugar pequeno deixou que ele nos visse e, além de falar no microfone, que se sentia feliz de nos ver, ficava mandando beijos e apertando as mãos na altura do coração. Quando nos encontramos ele me fala naquele tom de voz inconfundível "Você está uótima " . Eu respondo: e você,- melhor ainda!!!! Nessa noite nós não rimos, saímos de lá com uma sensação boa de saber ter vivido momentos especiais, mas com a certeza de que era a última. Alguns anos mais tarde, depois de muita insistência levamos nossos filhos, fãs confessos também, a um show no Bar Brahma. Eles, mais minha nora Paula, adoraram, assim como muitas e muitas amigas que o descobriram agora . Eu não. A voz continua cristalina e perfeita, mas nenhum de nós tem mais o vigor daqueles tempos. Geraldo e Cristina não estavam conosco, ele não cantou nenhuma música especialmente para mim e tive certeza de uma etapa definitivamente encerrada na minha vida. Agora, por acaso acabo de ver na TV um show pelos seus 80 anos. Foi tão maravilhoso, tão mágico que essas lembranças me voltaram tão fortes e de uma maneira que nunca vou poder contar. Só nós quatro sabemos o que foi.
beijos
P.S. Escolhi o nome da minha filha Luisa quando escutei pela primeira vez este hino recém lançado pelo insuperável Tom Jobim. Acho que foi o nome que a fez tão doce e meiga.

4 comentários:

Passeio Quadriciclo disse...

lindo texto...

Chris disse...

Gostei muito do texto, sua espontaneidade tb. Bom de ler, Pituca! É como conhecer alguém com quem se tem muita afinidade. Parabéns.
http://chrispaiva.zip.net/

Santana Filho disse...

PITUCA, que bonito!!!!!

Um abraço. Santana

Lesma de sofá disse...

Pituquita, eu acho a coisa mais fofa do mundo vc gostar assim do Cauby!
As lembranças boas são assim mesmo, são lembranças e devem ficar no lugar delas, ou virarem novas lembranças...
Você é demais de sabida, não te aguento...hehe
bjsbjs e amores