15 de mar. de 2012

Nunca morrer num dia assim, de um sol assim!!

Mas foi assim, com um sol escandaloso e inclemente que a minha querida, minha “idala”, meu espelho, Vera Rodrigues Telles Rudge morreu.  Junto com ela, a  tia divertida, culta e brilhante, que amou e viveu a vida com toda a intensidade, morre um pouco, ou muito, de mim. Pra ela, que, junto com meu  pai, recitavam tantas poesias, vai essa, que ela tantas e tantas vezes declamou:
In extremis

Nunca morrer assim! Nunca morrer num dia
Assim! de um sol assim!
Tu, desgrenhada e fria,
Fria! postos nos teus os meus dedos gelados...

E um dia assim! de um sol assim! E assim a esfera
Toda azul, no esplendor do fim da primavera!
Asas, tontas de luz, cortando o firmamento!
Ninhos cantando! Em flor a terra toda! O vento
Despencando os rosais, sacudindo o arvoredo...

E aqui dentro, o silêncio...E este espanto! e este medo!
Nós dois...e, entre nós dois, implacável e forte,
A arredar-me de ti, cada vez mais, a morte...
Eu, com o frio a crescer no coração, - tão cheio
De ti, até no horror do derradeiro anseio!
Tu, vendo retorcer-se amarguradamente,
A boca que beijava a tua boca ardente,
A boca que foi tua!

E eu morrendo! e eu morrendo
Vendo-te, e vendo o sol, e vendo o céu, e vendo
Tão belo palpitar nos teus olhos, querida,
A delícia da vida! a delícia da vida!


Olavo Bilac