23 de nov. de 2010

Sapos e papos

Já faz tento tempo que vim para o SPA que tenho a sensação de ter arrumado meus armários no século passado e de ter trabalhado numa campanhano no retrasado. Os dias aqui são lentos, não por falta de atividades, mas por estar desde 6a feira com uma dor chatíssima na coluna, preciso ficar em repouso. Só faco as aulas de hidroginastica e leio. No meu quarto não tenho internet e nem TV a cabo, ainda bem! Não vejo.A televisão aberta é tão ruim que é impossível assistir. A solidão que não me assusta,até me atrai, ontem veio chegando de mansinho e, junto com ela ,uma chuva torrencial. Fiquei o dia todo no meu quarto, fechada com medo dos sapos e pererecas que aqui são muitos. Esse pavor irracional que eu sinto, me isola e me faz pensar: porque ter esse medo do que sei ser inofensivo? Eu fui criada numa fazenda, onde comeca esse medo?
Vem de onde a minha memória racionalmente não poderia se lembrar - eu teria não mais que 3 ou 4 anos,ainda no casão da Usina Esmeralda, a inesquecível e querida Babá me dando banho no único e enorme banheiro daquela casa onde moramos enquanto o Chalé não ficava pronto. Embaixo de um deque ou estrado no chuveiro, pula uma rã. Ainda escuto os gritos da Babá que tinha tal pavor desse bichinho que até uma ranzinha de metal dourado que a Vovó tinha, ela não olhava e muito menos polia. Alguns anos mais tarde, já na nossa casa,ainda na Esmeralda, uma rã entra no meu pijama, aquela horrivel sensação gelada, meu pai e Duduca caçoando de mim. Como, só agora, cincoenta e tantos anos depois,essa imagem me volta tão nitidamente? Deve ser o tal subconciente que 'as vezes me deixa meio " blue'' e me faz lembrar poesias. Procurando no google uma do Fernado Pessoa que fala alguma coisa como "hoje o dia deu em cinzento" dou de cara com essa que colo aqui. Acho que preciso jogar no bicho urgentemente:



Todas as cousas que há neste mundo


Têm uma história,


Excepto estas rãs que coaxam no fundo


Da minha memória.
Qualquer lugar neste mundo tem


Um onde estar,


Salvo este charco de onde me vem


Esse coaxar.
Ergue-se em mim uma lua falsa


Sobre juncais,E o charco emerge, que o luar realça


Menos e mais.
Onde, em que vida, de que maneira


Fui o que lembro


Por este coaxar das rãs na esteira


Do que deslembro?
Nada.


Um silêncio entre jucos dorme.

Coaxam ao fim

De uma alma antiga que tenho enorme
As rãs sem mim.

Um comentário:

Unknown disse...

Pituca
Até o nome sapo me dá arrepios....e o meu motivo foi diferente do seu...O nosso primo Marcos saia com a mão cheia de girinos que nasciam na borda da piscina, correndo atrás de mim para me emendrontar...e assim é...não posso ver nem foto desse animal hoje consciente do trauma,resta a ogeriza.Mas lagartixa eu não tenho nojo e assim vc pode me chamar prá te socorrer!